Os jornais impressos se consolidaram no século XX como ferramenta importante de pesquisa na área de História. No século XIX, as documentações oficiais do Estado eram priorizadas nos estudos históricos, sendo para muitos a verdadeira representação do fato acontecido. Os jornais eram vistos com desconfiança pelos historiadores, por reconhecerem a parcialidade desses veículos de comunicação, que invariavelmente atendiam a interesses de determinados grupos.
Hoje, o historiador tem uma infinidade de documentos que podem ser utilizados como fonte histórica e também como objeto de estudo. Os jornais impressos se constituíram nesse contexto em arcabouço da pesquisa historiográfica, pois ao utilizarmos os mesmos como objeto de estudo, podemos acessar e analisar discursos e representações sociais criados por esses meios de comunicação e os grupos sociais de quem são porta-vozes.
Dentro dessa dinâmica, o presente trabalho teve como objetivo analisar o discurso do jornal Folha do Subúrbio nos anos de 1963-1966, no contexto que culminou na ditadura civil/militar no Brasil, tendo como proposta pedagógica levar para a sala de aula essas fontes históricas para serem exploradas junto com os alunos, para com isso, fomentar uma visão problematizada dos discursos jornalísticos e das representações por eles criadas, assim como também, estimular a pesquisa e a educação científica na educação básica, enriquecendo assim o conhecimento dos alunos no que se refere ao contexto histórico estudado.
No que diz respeito ao uso de jornais em sala de aula, tivemos como referência as concepções de Maria Alice Faria.1 Segundo a autora, em seu clássico livro, Como Usar o Jornal em Sala de Aula, “se a leitura do jornal for bem conduzida, ela prepara leitores experientes e críticos para desempenhar bem seu papel na sociedade.” Mais adiante, no que tange à formação geral do estudante, ela ressalta que “a leitura crítica do jornal aumenta sua cultura e desenvolve suas capacidades intelectuais.” Por fim, a autora explica que “os bons jornais oferecem, tanto ao professor quanto aos alunos, uma norma-padrão escrita que sirva de ponto de referência para a correção na produção de textos.”2 Ou seja, podemos dizer que a utilização de jornais em sala de aula propicia aos alunos uma visão mais problematizadora em relação aos discursos jornalísticos, assim como também pode desenvolver ainda mais as habilidades e competências necessárias para o amadurecimento da leitura e escrita, possibilitando assim, um melhor desempenho durante a sua produção de texto, estimulando a coesão textual, a clareza das ideias e a capacidade de síntese, além de ampliar o seu repertório vocabular em seu processo de escolarização.
Trabalhamos também com o conceito de Educar pela Pesquisa, defendido pelo sociólogo e educador Pedro Demo1. Em seu livro, Pesquisa: princípio científico e educativo, o autor chama a atenção para a necessidade da pesquisa em ambiente educacional. Ele destaca que é preciso tornar o ambiente educacional em um espaço de investigação e sobretudo, produção científica. Espaço esse que deixe de ser simplesmente um reprodutor de um saber já estabelecido.
Segundo Demo, “predomina entre nós a atitude do imitador, que copia, reproduz e faz prova. Deveria impor-se a atitude de aprender pela elaboração própria, substituindo a curiosidade de escutar pela de produzir.”2 Ou seja, essa afirmação do autor aponta para a necessidade de se fomentar a pesquisa em ambiente escolar, propiciando uma formação mais autônoma e emancipatória nos estudantes.
Essa pesquisa visou responder algumas questões: como a utilização de jornais nas aulas de História pode contribuir para a efetivação da pesquisa e da educação científica no Ensino Médio? De que maneira a utilização de jornais em sala de aula pode estimular uma visão mais problematizadora nos alunos em relação ao discurso jornalístico? É possível que o uso de jornais em sala de aula torne o Ensino de História mais interessante e proveitoso para os estudantes?
A partir desses questionamentos, levamos para a sala de aula um pouco do método científico de análise de documentos utilizado pelos historiadores em sua produção historiográfica, instigando o aluno a compreender que a História não é simplesmente escrita a partir da imaginação do historiador – confundida muitas vezes como obra ficcional – e sim uma ciência humana com seus métodos de pesquisa próprios.
Deste modo, a nossa proposta consistiu inicialmente, em pesquisar junto com os alunos da Turma C Vespertino, do 3º ano do Ensino Médio, do Colégio Estadual Profº. Edilson Souto Freire, o jornal Folha do Subúrbio, explicando à turma a sua importância para a História local, supondo que a utilização de um jornal local, produzido e distribuído na cidade de Camaçari, pudesse aproximar os alunos do conhecimento histórico, evidenciando para eles que todos nós somos agentes históricos, transformadores cotidianos da realidade, tanto política quanto econômica e social.
1 Ibid., p.95.
1 DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 14.ed. São Paulo: Cortez, 2011.
2 Ibid., p.10.
1 FARIA, Maria Alice. Como usar o jornal na sala de aula. 10. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
2 Ibid. p.11.
Comentários
Postar um comentário