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Resultados

O interesse por desenvolver essa pesquisa surgiu, em grande medida, da angustiante constatação do “ensino bancário” ainda predominante em nossas escolas públicas. A imagem de um professor ministrando uma aula expositiva, em que apresenta um “monólogo” para uma turma de jovens dispostos apenas a aprender um pouco da sapiência do seu mestre, infelizmente ainda faz parte de nossa realidade educacional.

Quando iniciamos a pesquisa, tínhamos como objetivo pensar o Ensino de História como prática que tornasse o aluno partícipe da produção do conhecimento histórico e, para que isso se tornasse realidade, a utilização de Fontes Históricas se revelou de fundamental importância, pois é difícil pensar no ofício do historiador sem lembrar os objetos que o auxilia na interpretação do passado.

No início da pesquisa perguntamos: é possível que o uso de jornais em sala de aula torne o Ensino de História mais interessante e proveitoso para os estudantes?

Ao cruzarmos as informações que obtivemos durante as oficinas com as respostas dos alunos no questionário observamos que a pesquisa em sala de aula no Ensino de História; tendo jornais como suporte pedagógico, tornou o processo de aprendizagem mais dinâmico e prazeroso. Percebemos também, que a novidade para eles, representada pela metodologia de ensinar pela pesquisa teve um papel fundamental em relação a motivação. Alguns alunos afirmaram que as oficinas com o uso de jornais potencializaram o interesse deles pelo estudo de História e isso nós também observamos durante o desenvolvimento do trabalho. Os alunos apresentaram uma disposição não identificada ainda nessa turma ao longo do ano letivo. Estudantes que não tinha o hábito de participar das aulas e que dificilmente respondiam as atividades propostas pelos professores, se engajaram de tal maneira, que se integraram ao desenvolvimento das oficinas, participando do processo de investigação dos jornais e dos debates que as investigações geravam durante os encontros.

Vários alunos salientaram como a atividade prática de pesquisa influenciou em sua aprendizagem em História durante as oficinas. Percebemos que o fato de deixarem de ser simplesmente espectadores de aulas expositivas que reproduzem o conhecimento histórico produzido no mundo acadêmico, para se tornarem agentes atuantes no processo de construção do conhecimento histórico e científico, aguçou ainda mais a curiosidade deles, tornando o ato de aprender uma prática mais fácil e prazerosa.

Dos nove alunos que participaram das oficinas, oito responderam que a metodologia aplicada em sala de aula contribuiu para melhor compreender o período da ditadura militar. Para eles, a metodologia foi um facilitador do processo de aprendizagem. Muitos alunos chamaram atenção de como a metodologia estimulou o confronto de narrativas divergentes, pois estavam analisando um jornal que apoiara o Golpe de 1964 e ao mesmo tempo discutiam contrapontos a partir de bibliografia especializada no período.

No início do trabalho perguntamos também: como a utilização de jornais nas aulas de História pode contribuir para a efetivação da pesquisa e da educação científica no Ensino Médio?

Identificamos durante a pesquisa que a utilização de jornais em sala de aula pode se configurar como um excelente suporte para a efetivação de uma educação científica no Ensino Médio. Ensinar História através da pesquisa, tendo os jornais como suporte, permitiu os alunos compreenderem de que maneira se produz o conhecimento histórico e, analisar os documentos, confrontando-os com bibliografia acadêmica desenvolveu no alunado o espírito investigativo necessário para a produção do conhecimento científico.

Ao longo das oficinas foi possível observar a empolgação dos discentes na leitura dos jornais. Cada equipe ficou responsável por responder um problema de pesquisa e isso, potencializou o espírito criativo deles, de maneira que debatiam entre si os textos que estavam sendo analisados procurando tirar as dúvidas que apareciam e ao mesmo tempo apresentavam suas análises dos textos que estavam lendo.

A metodologia do uso de jornais em sala de aula, alicerçada na tese de Educar Pela Pesquisa, do professor Pedro Demo, contribuiu para uma melhor compreensão do passado. Nas palavras de vários alunos, essa metodologia tornou o Ensino de História mais fácil e prazeroso. Foi possível para os alunos, perceberem como funciona a produção do conhecimento científico, pois precisaram observar e analisar as fontes, levantar hipóteses sobre o discurso do Jornal, ler a bibliografia especializada no assunto, confrontar suas ideias com seus pares, responder o problema de pesquisa e interpretar o passado baseando-se nas leituras das Fontes, além de aprenderem que, para a efetivação de um projeto de investigação, é necessário definir temas e recortar o contexto histórico. Ou seja, a base do princípio científico foi experimentada pelos alunos em sala de aula, fazendo com que eles ampliassem a compreensão referente à construção do conhecimento científico.

Por último, perguntamos: de que maneira a utilização de jornais em sala de aula pode estimular uma visão problematizada dos alunos em relação ao discurso jornalístico?

Constatamos que a partir da utilização dos jornais em sala de aula, em que analisamos o discurso intrínseco nos textos jornalísticos, os alunos começaram a se comportar de maneira mais questionadora frente ao que estavam lendo. Isso foi possível, principalmente, a partir das primeiras atividades realizadas com a turma, nas quais, utilizamos jornais atuais para que os alunos conhecessem a estrutura física de um jornal imprenso. Com a atividade, eles aprenderam a diferenciar os gêneros jornalísticos, a organização dos cadernos que constituem um jornal imprenso, além de compreenderem quais são as suas fontes de renda e para que público o jornal é direcionado.

Segundo os registros presentes nos questionários e relatórios, para os alunos a utilização dos jornais em sala de aula proporcionou o desenvolvimento de uma leitura mais problematizada dos textos jornalísticos. Para eles, isso foi possível porque esse tipo de trabalho permitiu melhorar a capacidade de interpretação de texto, fomentando assim o senso crítico, pois durante as oficinas foi necessário analisar e questionar o tempo todo o discurso jornalístico reproduzido nas páginas do Jornal Folha do Subúrbio.

Percebemos também que no decorrer das oficinas, os alunos se tornaram cada vez mais questionadores, refletindo sobre os interesses e motivos que levaram a produção dos textos do Jornal. Essa postura é importante, pois o indivíduo deixa de ser um simples agente passivo na leitura dos textos – não só os jornalísticos – e se torna um elemento ativo nesse processo, analisando, interpretando e ressignificando o texto lido no momento. Isso ajuda não só na interpretação dos textos escritos, mas também da realidade cotidiana na qual o indivíduo está inserido, além de torná-lo menos ingênuo diante da rede de Fake news tão presente em nossa vida atualmente.

 

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